Sue Hughes

19 de agosto de 2020

Modificar 12 fatores de risco ao longo da vida pode retardar ou prevenir 40% dos casos de demência, sugere novo relatório.

A publicação é uma atualização da Lancet Commission on Dementia Prevention, Intervention, and Care.

O texto original,  publicado em 2017 , identificou nove fatores de risco modificáveis que estimava-se que fossem responsáveis por um terço dos casos de demência. Nesta atualização a comissão acrescentou três fatores de risco modificáveis à lista.

“Nós reconvocamos a Lancet Commission on Dementia Prevention, Intervention, and Care de 2017 para identificar evidências de avanços que provavelmente terão o maior impacto desde nosso artigo de 2017″, escreveram os autores.

O relatório de 2020 foi apresentado na Alzheimer’s Association International Conference (AAIC) de 2020, que foi apresentada on-line por causa da pandemia de covid-19. O trabalho também foi  publicado on-line  em 30 de julho no periódico The Lancet.

Álcool, TCE e poluição

Os três novos fatores de risco acrescentados na atualização foram: consumo excessivo de álcool,  traumatismo cranioencefálico  (TCE) e poluição atmosférica.

Os nove fatores de risco originais eram: educação secundária incompleta;  hipertensão ;  obesidade ;  perda auditiva ; tabagismo;  depressão ; sedentarismo; isolamento social; e diabetes.

Estima-se que, juntos, esses 12 fatores de risco sejam responsáveis por 40% dos casos de demência no mundo.

“Nós sabíamos em 2017, quando publicamos nosso primeiro relatório listando os nove fatores de risco, que eles eram apenas parte da história e que vários outros fatores provavelmente estavam envolvidos”, disse ao Medscape a primeira autora, Dra. Gill Livingston, médica e professora da University College London, no Reino Unido.

“Nós agora temos mais dados publicados, com evidências suficientes” para justificar o acréscimo desses três fatores à lista, ela disse.

O relatório contém as nove seguintes recomendações para legisladores e indivíduos prevenirem o risco de demência na população em geral:

  • Manter a pressão arterial sistólica ≤ 130 mmHg a partir dos 40 anos de idade.
  • Incentivar o uso de aparelhos auditivos diante da perda auditiva, e reduzir a perda auditiva por meio da proteção dos ouvidos em relação a sons de alta intensidade.
  • Reduzir a exposição à poluição atmosférica e ao fumo passivo.
  • Prevenir a ocorrência de  traumatismo cranioencefálico, focando particularmente em profissões de alto risco e nos meios de transporte.
  • Prevenir o abuso de álcool e restringir o consumo a menos de 21 unidades por semana.
  • Parar de fumar e ajudar outras pessoas a pararem de fumar – o que os autores destacam ser benéfico em qualquer idade.
  • Fornecer educação primária e secundária para todos.
  • Levar uma vida ativa na meia-idade (e depois dela).
  • Reduzir a obesidade e o diabetes.

O relatório também resume as evidências que dão suporte aos três novos fatores de risco de demência.

A traumatismo cranioencefálico costuma ser causado por acidentes de carro, moto ou bicicleta; participação em guerras ou manobras militares; prática de boxe, hipismo e outras atividades recreativas; uso armas de fogo; e quedas. O relatório observa que um único traumatismo cranioencefálico grave está associado em humanos e camundongos a uma doença com disseminação de tau hiperfosforilada.

O texto também cita vários estudos nacionais nos Estados Unidos que mostram que o traumatismo cranioencefálico está associado a aumento do risco de demência em longo prazo.

“Nós não estamos aconselhando que os esportes não sejam praticados, visto que fazê-lo é algo saudável. Mas estamos pedindo às pessoas que tomem precauções para se protegerem de forma adequada”, disse a Dra. Gill.

Quanto ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas, o relatório informa que “estão surgindo cada vez mais evidências sobre a complexa relação entre o álcool e os desfechos de cognição e demência provenientes de diversas fontes, como detalhados estudos de coorte e grandes estudos analisando informações de bancos de dados”.

Um estudo Francês, que incluiu mais de 31 milhões de indivíduos hospitalizados, mostrou que os transtornos por  uso de álcool  foram associados a um aumento de três vezes do risco de demência. No entanto, outros estudos sugeriram que um consumo moderado de álcool pode ser protetor.

“Nós não estamos dizendo que beber é ruim, mas estamos dizendo que é ruim beber mais de 21 unidades por semana”, observou a Dra. Gill.

Quanto à poluição atmosférica, o relatório observa que, em estudos com animais, foi mostrado que partículas poluentes no ar aceleram processos neurodegenerativos. Além disso, pesquisas anteriores demonstraram que concentrações elevadas de dióxido de nitrogênio (partículas finas presentes no ambiente resultantes da exaustão do tráfego e da queima residencial de madeira) estão associadas ao aumento da incidência de demência.

“Embora seja necessária uma política internacional para redução da poluição atmosférica, as pessoas podem tomar algumas atitudes para reduzir o próprio risco”, disse a Dra. Gill. Por exemplo, ela sugeriu evitar caminhar próximo a ruas com tráfego intenso e preferir caminhar “em ruas mais afastadas, se possível”.

 

Fonte: univadis

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